segunda-feira, 20 de junho de 2011

Aspectos Sociais,


Em plena era digital, o vinil continua em alta. Apesar dos avanços tecnológicos, que têm mudado a forma de se comprar, ouvir e se relacionar com a música, nada disso foi suficiente para acabar com a paixão de muitos apreciadores, que acham o disco de vinil insubstituível. Mesmo restrito as prateleiras das lojas de sebos, o “bolachão” continua despertando interesse para aqueles, que adoram ouvir músicas acompanhados dos estalinhos e chiados. Embora trabalhoso, tirar o vinil da capa, colocar no toca-disco, pegar o bracinho e direcionar para uma determinada faixa. Todo este processo não chega a ser uma chateação, pelo contrário, é um ritual simples e gostoso.


Outra vantagem do vinil sobre o CD é a parte gráfica. Muitos preferem o disco pelo encarte com fotos e detalhes sobre a obra do artista. Tem discos que se tornaram célebres por suas capas. Por exemplo, o álbum “Todos os Olhos”, de Tom Zé, que durante muito tempo gerou uma curiosa história de que a foto era de uma bolinha de gude em cima de um ânus. Mais tarde, Tom Zé acabou desmentindo, dizendo que era em cima da boca de uma mulher. E como se poderia reproduzir em CD a célebre capa de “Sticky Fingers”, dos Rolling Stones, de 1971. Para quem não sabe, a capa do original, por muitos atribuída a Andy Warhol, trazia um zíper. Para retirar o disco, era preciso abri-lo como se fosse uma calça.


Charles Gavin, baterista dos Titãs, além de colecionador compulsivo de discos, é remasterizador de obras esquecidas nas gravadoras. Considera que o grande prejuízo dos arquivos digitais não é técnico, é cultural. “O MP3 não carrega mais essa informação da capa, o trabalho gráfico do artista. Sou de uma geração que escutava o disco com a capa na mão, lendo as letras. Não abro mão de saber quem fez, como fez, onde fez, a informação dos instrumentistas. Isso faz parte da informação do objeto disco”. Amante do vinil, Gavin apresenta às quintas-feiras, pelo Canal Brasil (66 da Sky), às 21h, com reprises no sábado às 13h, o programa “Som do Vinil”. Mais que contar a história do formato, ele refaz a história da música popular brasileira pelos caminhos dos álbuns mais significativos dos anos 70.



O que também colabora com a volta do vinil é a crescente desilusão com o som do CD. Um dos argumentos é de que as músicas em CD, comparadas às originais em disco, deixam muito a desejar em termos de qualidade sonora. Conhecido por seu áudio límpido, o CD é tecnicamente melhor, porém, inibe os graves e agudos, comprime tudo deixando o som ficar pasteurizado. A reprodução analógica do vinil, corresponde exatamente ao som que foi produzido pelos músicos no estúdio. De grosso modo, é só comparar a quantidade de faixas cabem em um disco, com relação aos Cd´s e outros arquivos digitais, exemplo: MP3, MP4, IPod. Mesmo ocorrendo à substituição do sistema analógico pelo digital, a preferência por discos acaba sendo resultado de uma pequena diferença de decibéis.

Aliás, os DJs são os grandes responsáveis pela volta do vinil de forma mais popular. Parte desse retorno se deve as versões remix, que estouraram nas pistas de dança, clubes e boates. Muitos preferem discotecar com vinil, para criar uma melhor performance, enquanto que o CD é somente apertar botões. Atentos as novas tendências, gravadoras e artistas voltaram a apostar nos velhos discos de vinil. Agora é possível comprar versões no formato LP (Long Play), vários artistas tem uma parte dos lançamentos em discos. Quando você entra numa loja em Nova Iorque ou em Londres, existe uma seção de discos à venda. O objetivo principal é fazê-los chegar às pistas pelas mãos dos DJs.

Aqui no Brasil, infelizmente não existe mercado para o vinil, que esta fora de circulação desde 1996, com a invenção dos Compact Disc (CD), onde trouxe maior capacidade, durabilidade e clareza sonora, sob alguns pontos de vista, fazendo os discos de vinil ficarem obsoletos e desaparecerem quase por completo no fim do Século XX. Enquanto em outros países, os LP´s estão na moda. Milhares de audiófilos no mundo ainda preferem o vinil, que são bastante disputados, existem até sites de leilões virtuais, vendendo, em média, seis LP´s a cada 10 minutos. Os discos em vinil passaram a valer ouro, principalmente aqueles antigos, guardados em casa. Algumas raridades chegam ao preço de US$ 30 mil. As primeiras gravações dos Beatles chegam a custar US$ 15 mil a unidade.


Um exemplo clássico é o antológico “Paêbirú”, vinil duplo dos anos 70, considerado um dos melhores discos de rock da psicodelia nacional, que encanta colecionadores em vários países do mundo. Gravado em 1975, por Zé Ramalho e Lula Côrtes. O álbum é totalmente conceitual, saiu como um LP duplo e foi dividido em quatro partes (cada lado do LP), em analogia aos 4 elementos: terra, ar, fogo e água. É uma mistura impressionante de Ravi Shankar e Pink Floyd num mesmo caldeirão com Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro. São “viagens esotéricas” no sertão da Paraíba que deram formas ao disco que é a referência máxima do experimentalismo musical nordestino dos anos 70. Nos cinco catálogos já publicados pelo colecionador austríaco, Hans Pokora, só dois discos brasileiros ganharam seis bolinhas: são o supra-sumo da raridade, com valor estimado em mais de mil euros. Um é justamente Paêbirú (que jamais teve uma reedição no Brasil) e o outro é o álbum “Sound Factory”, de 1970. No ano passado, a gravadora alemã Shadocks Music reeditou, com sucesso, o disco em CD e vinil. A valorização foi imediata. No site Mercado Livre, por exemplo, o Paêbirú (vinil duplo original) custa cerca de R$ 2.800,00.
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O Ministério da Cultura realizou no dia 30 de julho de 2008, uma visita à única fábrica de discos de vinil da América do Sul, a Polysom do Brasil, localizada em Belford Roxo, na Baixada Fluminense. Na ocasião, representantes dos ministérios da Cultura e do Trabalho, se reuniram para tentar encontrar uma solução para a reabertura da empresa e competir no mercado nacional e internacional. Desde a sua fundação, em 1999, a fábrica já chegou a imprimir 110 mil cópias de um só disco. No decorrer dos últimos anos, foram apenas cerca de 23 mil discos por ano.

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